O segredo para uma vida longa: Cromossomos sexuais correspondentes

Quando Jessie Gallan, de 109 anos, foi questionada sobre o segredo de sua longa vida, ela respondeu “ficar longe dos homens”. Outras pessoas com mais de 100 anos exaltaram as virtudes de tudo, desde palavras cruzadas a sapateado. Uma coisa que eles não costumam mencionar: cromossomos. No entanto, em todo o reino animal, indivíduos com cromossomos sexuais idênticos – incluindo mulheres com X duplo – vivem quase 18% mais do que seus pares com cromossomos incompatíveis, revela um novo estudo.

Na maioria dos animais, os cromossomos sexuais ajudam a determinar se um indivíduo se desenvolve como homem ou mulher. Nos mamíferos, as fêmeas geralmente têm dois cromossomos X idênticos, enquanto os machos têm um X e um cromossomo Y muito menor ou “reduzido”. Os sexos de alguns animais, como a maioria dos aracnídeos masculinos, não possuem um cromossomo do segundo sexo completamente. Esses cromossomos contribuem para as diferenças físicas entre machos e fêmeas. Os pássaros com cromossomos sexuais ZZ, por exemplo, são machos e tendem a ser mais coloridos, enquanto os ZWs são fêmeas com plumagem tipicamente mais branda.

Traços físicos não são as únicas diferenças entre os sexos. Os pesquisadores levantam a hipótese de que animais com cromossomos sexuais incompatíveis, como mamíferos machos XY, poderiam ser mais vulneráveis ​​a mutações genéticas, o que poderia resultar em uma vida útil mais curta. Mas até agora, os cientistas não estudaram esse efeito no reino animal.

Assim, pesquisadores da Universidade de New South Wales, em Sydney, vasculharam artigos científicos, livros e bancos de dados on-line para obter dados de cromossomos sexuais e longevidade. Eles compararam a expectativa de vida de machos e fêmeas de 229 espécies animais em 99 famílias, 38 ordens e oito classes. Na média, o sexo com cromossomos idênticos vive 17,6%. O padrão de longevidade é válido para seres humanos, animais selvagens e animais em cativeiro em toda a árvore genealógica evolutiva.

“Achei muito legal como, entre insetos e peixes, todos mostramos o mesmo tipo de resposta”, diz a principal autora do estudo, a ecologista Zoe Xirocostas.

Ainda assim, os pesquisadores descobriram que a disparidade no tempo de vida varia acentuadamente entre as espécies. Em um extremo, as baratas alemãs (Blattella germanica), com os cromossomos sexuais XX, vivem 77% mais que os homens do sexo masculino. A disparidade também varia dependendo se o animal com cromossomos sexuais correspondentes é feminino ou masculino. As fêmeas com cromossomos sexuais idênticos – como mamíferos e alguns répteis, insetos e peixes – vivem em média 20,9% mais que os machos, mas em machos com cromossomos sexuais correspondentes, como pássaros e borboletas, o ganho de vida útil das fêmeas é apenas 7,1%.

Essa irregularidade sugere que outros fatores além da presença de certos cromossomos sexuais também podem influenciar fortemente a longevidade, diz a equipe. Um desses fatores pode ser a seleção sexual. Características físicas exageradas e comportamentos elaborados tornam os machos de algumas espécies mais atraentes para as fêmeas, mas requerem grandes quantidades de energia e afetam a saúde geral.

“Sabemos que a seleção sexual é mais forte no sexo masculino”, diz o biólogo evolucionista Gabriel Marais, da Universidade Claude Bernard, Lyon, que não participou da pesquisa. Os machos “pagam o custo dessa seleção sexual com o envelhecimento mais rápido e morrem mais jovens”, diz Marais.

Se esses homens também têm cromossomos sexuais reduzidos ou ausentes, que os deixam vulneráveis ​​a mutações, os efeitos deletérios no tempo de vida aumentam, diz Marais. Em comparação, as fêmeas e os pássaros com cromossomos sexuais incompatíveis podem ser mais vulneráveis ​​a mutações, mas não enfrentam a redução do tempo de vida da intensa seleção sexual.

Trabalhos futuros podem ajudar os pesquisadores a entender como os cromossomos sexuais afetam a vida útil. Por exemplo, os pesquisadores ainda não sabem se o tamanho do cromossomo sexual reduzido corresponde à diferença de expectativa de vida entre homens e mulheres. “Existem tão poucos trabalhos sobre essa questão”, diz Marais. Ele elogia o novo estudo como um passo importante na direção certa.

Fonte: www.sciencemag.org

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