Cientistas descobrem vírus sem genes reconhecíveis

Os vírus são alguns dos organismos mais misteriosos da Terra. Eles estão entre as menores formas de vida do mundo e, como ninguém pode sobreviver e se reproduzir sem um hospedeiro, alguns cientistas questionaram se deveriam ser considerados seres vivos. Agora, os cientistas descobriram um que não possui genes reconhecíveis, tornando-o um dos mais estranhos vírus conhecidos. Mas quantos vírus realmente conhecemos? Outro grupo acabou de descobrir milhares de novos vírus escondidos nos tecidos de dezenas de animais.

As descobertas falam sobre “o que ainda precisamos entender” sobre vírus, diz um dos pesquisadores, Jônatas Abrahão, virologista da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

Abrahão fez sua descoberta enquanto caçava vírus gigantes. Esses micróbios – algumas do tamanho de bactérias – foram descobertos em amebas em 2003. Em um lago artificial local, ele e seus colegas encontraram não apenas novos vírus gigantes, mas também um vírus que – por causa de seu tamanho pequeno – era diferente da maioria que infecta nas amebas. Eles o chamaram de Yaravirus. (Yara é a “mãe das águas”, de acordo com a mitologia indígena tupi-guarani.)

O tamanho do Yaravirus não era a única coisa estranha. Quando a equipe sequenciou seu genoma, nenhum de seus genes combinava com os que cientistas haviam encontrado antes, o grupo reporta no servidor de pré-impressão bioRxiv.

A novidade viral não surpreende Elodie Ghedin, da Universidade de Nova York, que procura vírus nas águas residuais e nos sistemas respiratórios. Mais de 95% dos vírus nos dados de esgoto “não têm correspondência com os genomas de referência no banco de dados,” ela diz. Como Abrahão, ela diz: “Parece que estamos descobrindo novos vírus o tempo todo”.

Alguns dos genes do Yaravirus se parecem com os de um vírus gigante, mas ainda não está claro como os dois estão relacionados, diz Abrahão. Ele e seus colegas ainda estão investigando outros aspectos do estilo de vida do novo vírus.

Enquanto Abrahão perseguia vírus, um de cada vez, Christopher Buck e o estudante de graduação Michael Tisza, virologistas do Instituto Nacional do Câncer, lançavam uma rede muito maior. Eles estavam pesquisando amplamente nos tecidos de animais por vírus que mantêm seu material genético em circulação. Os chamados vírus circulares incluem vírus do papiloma, um dos quais, o vírus do papiloma humano, pode causar câncer do colo do útero e outro vírus que geralmente é inofensivo para as pessoas. Mas Buck tem evidências de que o último pode estar ligado ao câncer de bexiga em pacientes com transplante de rim e em outras pessoas.

Para encontrar esses vírus, os pesquisadores isolaram partículas virais de dezenas de amostras de tecidos de humanos e outros animais e as examinaram quanto a genomas circulares. O grupo confirmou que o DNA pertencia a um vírus ao procurar por um gene que codifica a concha de um vírus. Essas sequências genéticas geralmente são irreconhecíveis, mas Tisza escreveu um programa de computador que previa quais genes provavelmente codificariam as dobras distintas dessas conchas.

Ao todo, a equipe descobriu aproximadamente 2500 vírus circulares, cerca de 600 dos quais são novos para a ciência. Ainda não está claro qual o impacto, se houver, desses micróbios na saúde humana, informou a equipe em eLife. Mas Buck diz que os dados devem permitir que médicos e cientistas comecem a fazer essas conexões. A abordagem “é uma ferramenta importante para aprender a distribuição de centenas ou milhares de genomas virais”, diz Abrahão.

Os novos estudos têm implicações além de descobrir quais vírus causam doenças. Alguns vírus que vivem no corpo humano podem ajudar a nos manter saudáveis, e outros são essenciais para manter os ecossistemas funcionando sem problemas, ajudando a reciclar nutrientes essenciais. “Não poderíamos sobreviver sem eles”, Diz Curtis Suttle, virologista ambiental da Universidade da Colúmbia Britânica, em Vancouver, que não participou de nenhum dos estudos. “Há enormes benefícios para a descoberta e caracterização de vírus”.

Fonte: www.sciencemag.org

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